Abortivo Cytotec é encontrado com facilidade em farmácias e ruas de Marabá

Mais de 180 abortos já foram realizados nos primeiros quatro meses deste ano em Marabá

Mais de 180 abortos já foram realizados nos primeiros quatro meses deste ano em Marabá

Embora proibida há quase dez anos, a venda do Cytotec, medicamento para úlcera, que tem efeito abortivo, continua ocorrendo em algumas farmácias de Marabá e até em camelôs da cidade. É mais fácil encontrá-lo em pequenos estabelecimentos situados em bairros periféricos. Em geral, vendedores desconfiados negam saber do remédio, mas, com alguma insistência, revelam que existem pessoas que podem fornecer o Cytotec por meio de encomenda e com pagamento antecipado.

A reportagem  não teve dificuldades em chegar a vendedores do Cytotec – um dos nomes comerciais do misoprostol. Vendedores cobram alto pelo produto, que tem a venda proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mais de 180 abortos já foram realizados nos primeiros quatro meses deste ano em Marabá.

Quatro fornecedores da Nova Marabá e um do núcleo Marabá Pioneira mostraram o produto para o repórter disfarçado de motoqueiro e abriram negociação, que não foi fechada. No quarto vendedor, no Cidade Nova, a aquisição foi realizada com quatro comprimidos pelo valor de R$ 200. Apesar da pechincha, não houve abatimento de nenhum real. Foi toma lá, dá cá.

Vários mototaxistas sabem informar onde é mais fácil comprar o medicamento. Na farmácia tradicional onde a compra foi efetuada no bairro Liberdade, o vendedor fazia de conta que o negócio era entre ele e o cliente e que o proprietário do estabelecimento não sabia de nada. Ele chegou mesmo a ensinar como utilizar o remédio. “Depois das 22 horas, a grávida toma dois comprimidos e coloca dois na vagina. É tiro e queda”, garantiu.

Os quatro comprimidos – separados por uma tesoura da cartela original – foram enrolados em um envelope de depósito bancário e entregues ao repórter sem nenhuma discrição.

O vendedor afirmou ainda que não havia riscos, nem mesmo de hemorragia e que em alguns casos a “situação” (aborto) é resolvida em uma hora e demora no máximo 24 horas internada no Hospital Materno Infantil. No final, desejou boa sorte “no caso”.

Uma das pessoas abordadas pela reportagem em uma farmácia da Nova Marabá afirmou que tinha uma amiga que vendia, mas tinha medo de indicar. O medo, explicou a pessoa, era por dois motivos. Primeiro porque a Polícia Civil, segundo ela, tem investigado a venda do comprimido. “Como vou saber se você não é uma policial?”, questionou.

A mesma pessoa afirmou ainda que o uso do remédio é perigoso e tinha medo de indicar a amiga que vende e, depois, se acontecer alguma coisa com a pessoa que usaria, ser denunciada. “A pessoa pode até morrer. Você sabia?”.

Em outra farmácia, a atendente adverte sobre os riscos do uso de medicamento como abortivo. Depois de relutar, ela diz que consegue dois comprimidos, limite mínimo para encomenda, por R$40. “Você deixa o dinheiro que em duas horas eu entrego o remédio”, garante. Perto dali, em outro estabelecimento, o vendedor é mais explícito. Oferece a intermediação para compra com terceiros, em um “pacote” mínimo de quatro comprimidos, a R$ 80,00 cada, e também ensina como fazer para ter a certeza do aborto.

Estratégia

A única coisa que incomoda os vendedores é a concorrência. Um deles faz questão de certificar a qualidade do serviço. “Mesmo se tratando de um medicamento ilegal em nosso país, você pagará um valor justo para adquirir um medicamento original e que vai resolver seu problema. Tem gente por aí vendendo outra coisa como se fosse Cytotec”.

Ulisses Pompeu/Correio do Tocantins

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